IOF: O que está por trás da taxa que pesa mais nos ombros da população negra e pobre

Nos últimos meses, a disputa sobre a manutenção ou redução da alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) voltou ao centro do debate no Congresso Nacional. Enquanto o governo defende sua continuidade como forma de garantir recursos para programas sociais e equilíbrio fiscal, grande parte da população começa a questionar: quem realmente paga essa conta?
Neste artigo, explicamos o que é o IOF, por que ele existe e como ele afeta, de forma desproporcional, os brasileiros mais pobres — especialmente a população negra.
O que é o IOF e por que ele existe?
O IOF é uma taxa cobrada pelo governo federal sobre diversas operações financeiras, como empréstimos, compras no cartão de crédito, câmbio, seguros e investimentos. Na prática, toda vez que alguém pega um empréstimo, compra algo parcelado ou troca moedas, paga uma porcentagem ao governo.
Segundo o discurso oficial, essa arrecadação serve para regular a economia e manter o caixa da União abastecido, especialmente em momentos de necessidade, como foi o caso durante a pandemia. Em 2024, o IOF arrecadou mais de R$ 40 bilhões — uma quantia significativa para os cofres públicos.
O que está sendo discutido no Congresso?
A principal disputa gira em torno da proposta de reduzir (ou mesmo eliminar) parte das alíquotas do IOF sobre crédito. Alguns parlamentares argumentam que o imposto desestimula o consumo e penaliza quem precisa recorrer a crédito, muitas vezes, por falta de outra alternativa.
Apesar da pressão popular, a maioria dos deputados — especialmente aqueles ligados à base governista — tem defendido a manutenção do imposto, justificando que ele é essencial para garantir recursos para programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
Porém, há um paradoxo: manter o IOF alto pode acabar dificultando justamente o acesso ao crédito para os mesmos brasileiros que dependem dessas políticas públicas.
O impacto direto na população negra
Dados do IBGE mostram que a população negra é a mais afetada pela desigualdade econômica no Brasil. São as pessoas negras que, em sua maioria, têm menos acesso a crédito com juros baixos e mais chances de recorrer ao crédito rotativo ou ao parcelamento do cartão — justamente as formas mais taxadas pelo IOF.
Além disso, o acúmulo de juros e taxas torna mais difícil sair do endividamento, perpetuando um ciclo de exclusão financeira. Em vez de representar um instrumento de justiça social, o IOF, na prática, atua como uma trava no avanço econômico de milhares de famílias negras.
Manifestações e a reação popular
Nos últimos dias, movimentos sociais, sindicatos e organizações da sociedade civil têm se mobilizado contra a manutenção da taxa. Embora ainda sejam manifestações pontuais, cresce nas redes sociais e nos espaços comunitários o questionamento: por que não taxar os super-ricos ou lucros exorbitantes de grandes bancos em vez de penalizar quem ganha menos?
A pressão popular já provocou reações no Congresso, com parlamentares da oposição e de partidos progressistas propondo alternativas, como isenção do IOF para pequenas operações de crédito abaixo de determinado valor.
E agora?
A disputa sobre o IOF não é apenas técnica — é política e social. Está diretamente ligada a como o Brasil escolhe distribuir o peso da arrecadação. Para a população negra, que já vive à margem do acesso financeiro justo, manter esse imposto alto significa manter a desigualdade ativa.
Como cidadãos e cidadãs, é fundamental entender de onde vêm os impostos e para onde vão. Mas, mais do que isso, é hora de exigir que a justiça fiscal também leve em conta quem mais sente no bolso.
A discussão sobre o IOF não está isolada. Ela faz parte de um debate mais amplo sobre quem deve financiar o Estado brasileiro. Enquanto milhões de brasileiros — em sua maioria negros — pagam imposto toda vez que usam crédito, parcela ou cartão, os lucros milionários e grandes heranças seguem praticamente intocados.
Por que o Congresso insiste em manter o IOF, mas resiste à taxação de grandes fortunas? A resposta está na escolha política de quem se quer proteger: o sistema financeiro ou a dignidade da maioria.
💭 Análise crítica: Taxar os super-ricos resolveria ou traria o problema de volta ao povo?
A discussão sobre a justiça fiscal inevitavelmente levanta um dilema:
Se o governo taxar os super-ricos, eles não vão sair do país ou repassar esses custos nos preços, jogando tudo de volta nas costas do povo?
Essa é uma pergunta legítima — e precisa ser respondida com clareza, porque muitos dos argumentos contra a taxação das grandes fortunas se apoiam nesse medo. Mas será que isso se sustenta?
A fuga de capital é real, mas parcial
Países como França, Noruega e Suécia já enfrentaram casos pontuais de bilionários que se mudaram para fugir de impostos.
Mas esses episódios representam uma minoria e não resultaram em colapsos fiscais. Na verdade, a maioria dos super-ricos não transfere todo o seu patrimônio facilmente, pois boa parte da riqueza está atrelada a ativos, imóveis, empresas e relações locais.
Além disso, cresce no mundo o número de acordos internacionais para impedir paraísos fiscais, coordenados por organizações como a OCDE e o G20. Ou seja: a taxação global dos super-ricos está ganhando força.
E se repassarem os custos para os produtos?
Aqui, tudo depende do tipo de imposto:
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Se for sobre heranças, dividendos, lucros e grandes fortunas, dificilmente haverá impacto direto no preço do pão, do gás ou do transporte.
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Mas em setores com pouca concorrência (como bancos ou telecomunicações), pode haver tentativas de repasse — embora isso também possa ser regulado pelo Estado.
Importante lembrar: hoje, quem mais paga proporcionalmente em impostos no Brasil é quem tem menos.
Segundo dados do IPEA:
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Famílias com renda de até 2 salários mínimos destinam quase 50% da renda aos tributos indiretos (como ICMS, IOF e PIS/Cofins).
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Já os mais ricos, com lucros isentos e brechas legais, pagam proporcionalmente menos.
O imposto sempre volta para o pobre?
Nem sempre — e não deveria.
Isso só acontece quando o sistema é regressivo e feito para proteger privilégios.
A verdadeira justiça fiscal tem outro caminho:
✅ Taxar heranças milionárias, lucros isentos e grandes fortunas
✅ Diminuir impostos sobre o consumo básico, serviços e crédito
✅ Reinvestir em políticas públicas que reduzem a desigualdade
Quando o Estado corrige a balança e reinveste bem, a população pobre e negra é protegida — não penalizada.
Conclusão: redistribuir é necessário, e é possível
A lógica de que “todo imposto acaba voltando para o pobre” só vale quando o Estado é omisso ou capturado por interesses privados.
“Não se trata de punir quem tem muito. Se trata de proteger quem tem pouco. Justiça fiscal é sobre dignidade, e não sobre castigo.”
A posição do PDA-B
Diante de disputas como essa, o PDA-B reafirma seu compromisso com uma análise profunda, crítica e sistêmica da realidade. Não aceitamos soluções simplistas para problemas estruturais — especialmente quando essas soluções continuam penalizando a população negra, que historicamente já carrega o peso da desigualdade no Brasil.
Acreditamos que a justiça fiscal precisa ser uma ferramenta de reparação e não de perpetuação da exclusão. Por isso, toda proposta econômica precisa ser examinada sob o impacto que causa na vida das pessoas negras, pobres, trabalhadoras e periféricas.
O PDA-B estará sempre do lado das decisões que ampliam o acesso à dignidade, ao crédito justo, à renda, à moradia e à justiça social.
Porque quando o povo negro avança, o Brasil inteiro caminha junto.